1.2.10

A impontualidade do amor


VocĂȘ estĂĄ sozinho. VocĂȘ e a torcida do Flamengo. Em frente Ă  tevĂȘ, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha. Trimmm! Trimmm! (quem mais poderia ser?) Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor nĂŁo atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar vocĂȘ numa fase "galinha", sem disposição para relacionamentos sĂ©rios.

Ele passa batido e vocĂȘ nem aĂ­. Ou pode chegar tarde demais e encontrar vocĂȘ... Desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras.

O amor dĂĄ meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa? Agora, por exemplo, que vocĂȘ estĂĄ de banho tomado e camisa jeans? Agora que vocĂȘ estĂĄ se achando bonito? Agora que vocĂȘ estĂĄ empregado? Agora que vocĂȘ pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz? Agora que vocĂȘ estĂĄ com o coração Ă s moscas e morrendo de frio? O amor aparece quando menos se espera... E de onde menos se imagina.

VocĂȘ passa um ano inteiro hipnotizado por alguĂ©m, que nem lhe enxerga e mal repara em outro alguĂ©m que sĂł tem olhos para vocĂȘ. Ou entĂŁo, fica arrasado porque nĂŁo foi pra praia no final de semana, os seus amigos estĂŁo lĂĄ, azarando-se uns aos outros.

Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, vocĂȘ busca refĂșgio numa locadora de vĂ­deo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irĂĄ encontrar a pessoa que darĂĄ sentido Ă  sua vida.

O amor Ă© como tesourinha de unha: nunca estĂĄ onde a gente pensa. O jeito Ă© direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de m banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor estĂĄ em todos os lugares, talvez vocĂȘ nĂŁo o procure direito.

A primeira lição estĂĄ dada: o amor Ă© onipresente. Agora a segunda: o amor Ă© imprevisĂ­vel. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar Ă  luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo apĂłs a primeira transa. O amor odeia clichĂȘs.

VocĂȘ vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, Ă s quatro da tarde, depois de uma discussĂŁo, ou quando vocĂȘ menos esperar. E as flores vĂŁo chegar num dia qualquer apenas para informar-lhe como vocĂȘ Ă© especial para alguĂ©m. Assim... Sem um motivo ou data especial.

Mesmo que vocĂȘ jĂĄ tenha encontrado o seu amor, isto Ă© apenas para lembrĂĄ-lo de valorizar ainda mais... O amor nĂŁo Ă© banal. E que, embora estejam distorcendo o sentido verdadeiro dele nos tempos modernos de hoje, ele existe e Ă© o ingrediente mais importante da vida, a prĂłpria porção mĂĄgica da Felicidade. "Amar Ă© mudar a alma de casa".

MĂĄrio Quintana