POR QUE SE MATA E SE MORRE TANTO NO PAÍS?
Via Especial 'Mata-mata no Brasil' UOL em 17/06/2015
Mais pessoas são assassinadas todos os anos no Brasil do que em qualquer país do mundo.
Nos dois últimos anos foram registrados mais de 50 mil homicídios/ano no país, uma taxa de mais de 26 mortes por 100 mil habitantes. De cada dez homicídios registrados no planeta, um ocorre no Brasil, que tem só 2,8% da população global.
Nove pesquisadores, brasileiros e estrangeiros, discutem por que se mata tanto no país, pois entender as causas da violência pode ser o princípio rumo a uma sociedade mais pacífica.
COMO CHEGAMOS AQUI?
"Moradores de favelas são vítimas daquilo que chamamos de 'violência estrutural', que é aquela que surge da maneira como as estruturas da sociedade negam às pessoas o direito de satisfazer as suas necessidades básicas - boa educação, saúde, saneamento básico, direito à terra ou à habitação, a chance de uma vida melhor. Este tipo de violência é perpétua." [...]
"As taxas de homicídio são influenciadas por uma confluência de fatores: a desigualdade extrema, a impunidade da polícia, a falta de vontade ou coragem política e partes da população que suportam (abertamente ou não) a contínua marginalização daqueles que residem em favelas e que são mais frequentemente de descendência afro-brasileira."
Erika Robb Larkins
CIDADES PARTIDAS
"As taxas de homicídios não estão uniformemente distribuídas em todo o Brasil. No Rio, as mortes no Leblon são relativamente inexistentes, enquanto elas são altas na Baixada. Se você pensar em alguém constantemente representando uma ameaça a você, é muito mais fácil de aceitar a violência policial contra eles, por exemplo."
Erika Robb Larkins
DIREITO DE MATAR
"As pessoas que são mortas todo dia no Brasil são definidas como uma ameaça para o resto da sociedade. Essa mentalidade permite que aceitemos que algumas pessoas, especialmente as mais pobres, são 'matáveis'. Trata-se a população como se houvesse pessoas 'do bem' e outras 'do mal'. Há grupos que incentivam que a polícia seja violenta."
Martha K. Huggins
"No Brasil, a violência policial é um resultado de impaciência ou desconfiança nos sistemas formais de justiça. Os policiais militares são socializados pelo trabalho de usar força letal como um meio de controle social, como se os tribunais e a lei não pudessem controlar pessoas suspeitas de crimes. Eles acreditam que seu trabalho é julgar e punir."
Paul Chevigny
O ESTADO AUSENTE
"O Estado brasileiro ainda não foi capaz de gerar um processo civilizatório. A questão da violência no Brasil é uma questão civilizatória. É saber como construir uma sociedade mais pacífica e segura como um direito fundamental a todos, de forma igualitária, sem discriminação de qualquer tipo."
José Luiz Ratton
UM PAIS NÃO CIVILIZADO
"É impossível resolver o problema da violência nos EUA e no Brasil sem atentar para o fato de que ambas as sociedades têm raízes na escravização de africanos e no genocídio de povos nativos. Nossos passados criminosos são mais ou menos da mesma safra histórica."
Daniel Touro Linger
"Bandido, no Brasil, é aquele que amplos setores da sociedade consideram que é irrecuperável e cuja morte pode ser desejada. É jovem, geralmente preto ou pardo, pobre, vive em favelas ou na periferia, furta ou rouba transeuntes ou trabalha em mercados ilegais de varejo de drogas e outros bens ilícitos e recorre, para sua proteção, a armas de fogo."
Michel Misse
O alto número de mortes violentas no Brasil faz com que alguns estudos apontem a uma "falta de civilização" na sociedade do país.
A formação histórica do Brasil se deu com base em processos que envolviam a violência e a exclusão social - e isso tem relação direta com o elevado número de homicídios registrados.
QUEM MATA? QUEM MORRE?
Via UOL em 7/5/2015
Um estudo feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que o risco de um jovem negro ser assassinado no Brasil tem aumentado e supera em 2,5 vezes a possibilidade de um jovem branco ser vítima de homicídio.
Elaborado em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a pedido do governo federal, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial 2014 apontou que a taxa de jovens negros assassinados por 100 mil habitantes subiu de 60,5 em 2007 para 70,8 em 2012. Entre os jovens brancos, a taxa de vítimas de homicídio também aumentou: de 26,1 para 27,8.
Ou seja, os riscos aumentaram para os jovens de modo de geral, mas passaram a ameaçar ainda mais os negros. O risco de homicídio de um jovem negro superava em 2,3 vezes o de um branco em 2007. A diferença chegou a 2,5 em 2012.
Em números absolutos, isso significa que 29.916 jovens foram mortos em 2012, sendo 22.884 negros e 7.032 brancos. Em 2007, o número de jovens assassinados havia ficado em 26.603, dos quais 18.860 eram negros; e 7.443, brancos.
Nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, os riscos para os negros são ainda maiores. No Centro-Oeste, a taxa de jovens negros assassinados por 100 mil habitantes bateu na casa de 88,6 em 2012, pouco acima do índice nordestino, que é de 87. A taxa entre os negros do Norte é de 72,5.
Em alguns Estados, há taxas de assassinato ainda mais altas entre a juventude negra. Ela vai a 115,4 na Paraíba, a 126,1 no Espírito Santo e a 166,5 em Alagoas. "Os homicídios mostram-se como a grande tragédia da população jovem negra hoje no Brasil", informou o relatório. O Paraná é o único Estado onde o risco é maior para jovens brancos.
"A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera que taxas acima de dez para cem mil são consideradas como epidemia. O Brasil já ultrapassou o quadro epidêmico, é endêmico. É um quadro que persiste há décadas", afirmou Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum.
"Reduzimos a desigualdade, mas não conseguimos reduzir a violência", disse a pesquisadora. Para ela, o Brasil precisa considerar a segurança pública como fator de desenvolvimento e ter políticas mais sólidas voltadas aos jovens, sobretudo aos negros.
O relatório apontou que a segurança pública precisa incorporar a juventude como um público prioritário. "Não se trata de investir mais em policiamento. Boas políticas de segurança associam policiamento, prevenção e políticas sociais. O jovem é mais vítima do que agressor", declarou Samira.
O relatório também apresenta um indicador inédito, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil - Violência e Desigualdade Racial. Ele é calculado com base em cinco categorias: mortalidade por homicídios, mortalidade por acidentes de trânsito, frequência à escola e situação de emprego, pobreza no município e desigualdade.
O resultado mostra que a cor da pele dos jovens está diretamente relacionada ao risco de exposição à violência a que estão submetidos. Numa escala de 0 a 1, quatro Estados se situam na categoria de vulnerabilidade muito alta para negros, com índices acima de 0,5: Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Ceará.
SE NÃO MATA... PRENDE!
Via G1 em 3/6/2015
A vigilância policial está focada nos jovens negros. Eles são o alvo das prisões e compõem a maior parte da população carcerária. Quem está prendendo mais não está reduzindo necessariamente os homicídios”"
Jacqueline Sinhoretto, responsável pelo estudo 'Mapa do encarceramento'
São Paulo é o estado com a maior taxa de encarceramento de negros no país. O estado tem 595 presos negros a cada grupo de 100 mil habitantes negros. É o que revela um estudo da Secretaria Nacional da Juventude, da Presidência da República, obtido pelo G1.
A taxa média do país é de 292 a cada 100 mil habitantes negros, o que faz o índice de negros presos ser uma vez e meia o de brancos (191 a cada 100 mil); em São Paulo, ele sobe para 2.
“Esse modelo de policiamento se repete em outros estados. Ele está pautado na ideia de que o policial sabe reconhecer o criminoso pelas suas marcas físicas. A vigilância policial está focada nos jovens negros. Eles são o alvo das prisões e compõem a maior parte da população carcerária”, afirma Jacqueline.
As prisões em flagrante, segundo ela, também são responsáveis pelo alto número de presos provisórios no país. “A média no Brasil é de 38%, mas em alguns estados chega a 65% o número de não julgados nas prisões.”
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo diz que, como não teve acesso à metodologia da pesquisa, não irá comentar os dados.
QUEM OUVE O GRITO DE SOCORRO?
Todos os dados coletados em pesquisa e os fatos apresentados não são novidades para nós, jovens negros. Seria pretensão pensar que uma situação já caracterizada como endêmica possa ser resolvida por mim ou por você aí atrás da tela. Podemos, ou melhor, devemos nos posicionar sempre em todas as nossas ações. Nosso posicionamento vai além de reconhecer o problema e seus números; acompanhar movimentos de apoio e ações governamentais e não-governamentais para enfrentamento a esta questão é um bom início para sairmos da inércia e procurar resolver, ou pelo menos tentar!
Diante disto, achei válido tornar público meu apoio a campanha da ONG Anistia Internacional BR, denominada "Jovem Negro Vivo". A campanha foi fundada em novembro do ano passado, 'objetivo de mobilizar a sociedade e romper com a indiferença'; mas até o presente momento tem pouco mais de 44 mil assinaturas do manifesto. Apesar de divulgação relevante e apoio de pessoas influentes, prefiro acreditar que baixa adesão se dá pela falta informação [ da campanha... não dos dados alarmantes! ].
Dados do informe anual "O Estado dos Direitos Humanos no Mundo", realizado pelo organização em estância mundial, ocasionou a criação de petição, manifesto e ações afirmativas. Além de observar, analisarem e criar ações para a causa diretamente com a população, a ONG busca influenciar as posições brasileiras nos fóruns internacionais de direitos humanos, na ONU, no Sistema Interamericano e no Mercosul, de modo a promover a proteção e ampliação das garantias essenciais [ segurança pública, educação, cultura, trabalho, mobilidade urbana, etc ]. Acompanham os informes do Brasil às instituições globais de monitoramento de direitos humanos, como os órgãos dos tratados da ONU, e incentivam as autoridades brasileiras a assegurarem aos jovens negros seu direito a uma vida livre de preconceito e de violência. Coincidência ou não, mês passado o secretário nacional de Juventude, Gabriel Medina, anunciou que adotará medidas de combate ao preconceito racial - em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) - vinculadas à política de segurança pública, afim de reduzir os altos índices de violência contra os jovens negros.
Com base neste fato, convido aos visitantes do blog a assinar o manifesto. para que o número de assinaturas seja proporcional a revolta e temor que o assunto nos causa.
A Anistia Internacional é uma organização não governamental defende os direitos humanos desde 1961 e tem como lema "É melhor acender uma vela do que maldizer a escuridão."
Página "Chega de homicídios! Assine o manifesto."
Pôster da Campanha "Jovem Negro Vivo" em PDF
Plano Juventude Viva, vinculado à SEPPIR
PLUS > Artigo de Atila Roque, Diretor executivo da Anistia Internacional Brasil, fazendo um comparativo com as manifestações de repudio à morte de jovem negro em Ferguson, EUA. Publicado na revista Carta Capital em 9 de janeiro de 2015
"Muita pobreza
Estoura a violência
Nossa raça está morrendo mais cedo
Não me diga que está tudo bem"
Periferia É Periferia | Racionais Mc's | 1997