Durante anos foi isso que absorvi e compreendi sobre a figura do ícone global e diaspórico; até pesquisar e conhecer um MLK mais direto e enfático.
"A liberdade nunca é dada voluntariamente pelo opressor; deve ser exigida pelo oprimido. "
Luther King liderou o boicote aos ônibus para protestar contra a segregação no transporte público, que ajudou a lançar um grande movimento por direitos civis. Em decorrência das manifestações foi preso em Birmingham, em 1963, ocasião em que escreveu a "Carta da Prisão de Birmingham´". Nela, o líder alude ao gesto heróico da Sra. Rosa Park. Na carta, ele propõe enfrentamento ao defender o que consideramos correto; para estar em paz com a consciência, defendendo a justiça e a igualdade de direitos.
"Há dois tipos de lei: as justas e as injustas". "É nossa obrigação não apenas legal mas moral obedecer as leis justas. Por outro lado, temos a responsabilidade moral de desobedecer leis injustas."
"Devemos nos preocupar não apenas com aqueles que eles assassinaram, mas sobre o sistema, o modo de vida, a filosofia que produziu os assassinos."
Eulogy for the Martyred Children, 1963
O genocídio negro, a brutalidade policial, a violência moral e física, não é um ato de impensado; é a maneira que encontraram para mostrar domínio e controle. Compreender como a nossa sociedade trabalha para manter este sistema funcionando nos ajuda a identificar as ferramentas a serem utilizadas na luta contra o racismo e a opressão.
"Muitas vezes me pergunto se a educação está ou não atingindo seu objetivo. A grande maioria das pessoas ditas instruídas não pensa de maneira lógica e científica. Ate a imprensa, a sala de aula, os palanques e o púlpito em muitos casos não nos dão verdades objetivas e imparciais. Salvar o homem do pântano da propaganda, em minha opinião, é um dos principais objetivos da educação. A educação deve permitir que a pessoa examine e pese as evidências, tenha discernimento para diferenciar o verdadeiro e o falso, o real e o irreal, os fatos e a ficção.
A função da educação, portanto, é ensinar a pensar intensamente e a pensar criticamente. Mas a educação que se contenta com a eficiência pode se provar a maior ameaça à sociedade. O criminoso mais perigoso pode ser dotado de razão, mas não de moral.
Devemos lembrar que inteligência não é o bastante. Inteligência mais caráter – esta é a meta da verdadeira educação. A educação completa dá à pessoa não somente o poder de concentração mas objetivos dignos em que se concentrar. A educação ampla transmitirá, portanto, não só o conhecimento acumulado da raça, mas também a experiência acumulada da vida social."
O propósito da educação de 1947
"De todas as formas de desigualdade, a injustiça na saúde é o mais chocante e desumano."
Discurso na Convenção da Comissão Médica para os Direitos Humanos de 1966
Os dados da pesquisa Nacional de Saúde (PNS) revelada em maio de 2015 auxiliam na reflexão:
De toda a população branca atendida, 9,5% saem da unidade hospitalar com o sentimento de discriminação. O percentual é maior entre pretos (11,9%) e pardos (11,4%), ambas nomenclaturas adotadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cuja soma representa a população negra. Menos pretos e pardos saem com avaliação “boa” ou “muito boa” do atendimento, 70,6% e 69,4%, em relação aos brancos, 73,5% deles satisfeitos. Já as pesquisas qualitativas revelam que negros têm desvantagem em todos os quesitos pesquisados pela PNS: consultam menos médicos e dentistas, têm menos acesso a remédios receitados no atendimento, tiveram mais dengue, têm mais problemas de saúde que impedem alimentação, têm menos planos de saúde (exceto quando o empregador paga a conta, outro sinal de desigualdade), usam menos escova, pasta e fio dental.
Em 2006 quando o então ministro da Saúde, Agenor Álvares, na abertura de um seminário sobre saúde da população negra no Rio de Janeiro, declarou que havia racismo no SUS. Médicos, por meio de entidades de classe, rejeitaram. O argumento usado pelo Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro era de que a discriminação era social, entre ricos e pobres, e não por cor, semelhante aos argumentos usados em áreas como educação para rejeitar cotas para negros em universidades. O ministro se baseava em dados coletados pela Fundação Oswaldo Cruz. Pesquisadoras analisaram 9.633 prontuários de grávidas e perceberam que, a cada 100 pacientes brancas, 16 não recebiam anestesia. Entre 100 negras, o número subia para 23. Entre pessoas mortas por doenças como tuberculose, aids e hipertensão arterial, o padrão se repetia.
Entre ações do governo federal para combater a desigualdade na saúde, a pasta mencionou a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), instituída em 2009, a “Campanha SUS Sem Racismo”, lançada em 2014 com cursos à distância para 5 mil profissionais da saúde em todo o país, e a abertura do segundo edital de pesquisa em saúde da população negra, que vai destinar R$ 2 milhões a pesquisadores, para que descubram maneiras de ajustar o sistema público de saúde para coibir a discriminação. O resultado das ações mencionadas pelo governo poderá ser medido, de modo concreto, só depois de 2018, para quando a próxima rodada da PNS está agendada.
Dados da matéria do Época online - 23/06/2015