
Amigos...
Amigos de facebook, amigos de role, amigos de casa, amigos de alma.
O conselho Ă© este...diferenciar, se identificar, escolher e amar; cada um ao seu modo e reciprocidade.
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Na ocasiĂŁo em que escrevi essa reflexĂŁo nĂŁo consegui achar uma definição direta para o que queria transmitir... tempos depois me deparei com o texto de Eduardo Benesi, "FrequĂȘncia afetiva, qual Ă© a sua?".
BANG!
FRE-QUĂN-CIA-A-FE-TI-VA!
Ă isso!
"Dias desses mandei um inbox parabenizando uma amiga querida pelo seu aniversĂĄrio. Na verdade, eram votos atrasados, jĂĄ que ela tinha aniversariado no dia anterior. Ao agradecer meu pequeno textinho, ela escreveu: “gratidĂŁo pelo carinho e energia positiva, tambĂ©m por aceitar minha frequĂȘncia afetiva”. Eu nunca tinha lido essa expressĂŁo “frequĂȘncia afetiva” e ela ficou na minha cabeça por alguns dias. Propositalmente, nĂŁo perguntei a ela o que aquilo significava porque eu simplesmente quis atribuir o meu sentido para aquela expressĂŁo tĂŁo especial, usada em um contexto tĂŁo carinhoso, por uma pessoa tĂŁo profunda.
Comecei a pensar que todos nĂłs tĂnhamos a tal frequĂȘncia afetiva. Essa ideia talvez estivesse diretamente ligada ao nĂvel de presença que exercemos na vida das pessoas importantes para nĂłs e tambĂ©m a forma como demonstramos isso. Pensei entĂŁo em alguns exemplos de amigos que possuĂam frequĂȘncias afetivas muito especificas:
– A Natalia Ă© uma amiga dos tempos de faculdade muito querida. Era daquele tipo do fundĂŁo que se infiltra no seu grupo sem vocĂȘ convidar, mas que no fim fazia tudo certinho. Sua caracterĂstica marcante era o fato dela apreciar novelas do canal Viva – isso era um segredo dela. Depois que deixamos de conviver, comecei a perceber que eu sĂł conseguia marcar algo com ela de seis em seis meses, em mĂ©dia. Que se eu tentava marcar coisas com intervalos menores, por algum motivo, o role nĂŁo saia. Passei a aceitar que esse era o tempo dela e que isso nĂŁo diminuĂa a minha importĂąncia em sua vida. AtĂ© hoje mantemos essa amizade tĂŁo especial quanto semestral.
– Tem a Carol que foi minha amiga da Ă©poca de acampamento. A Carol Ă© muito intensa e jĂĄ viveu as fases mais exĂłticas que vocĂȘ pode imaginar. Ela jĂĄ quis ser cigana e atriz, jĂĄ foi para BrasĂlia para defender ideias de esquerda, jĂĄ morou nos Estados Unidos e em Londres e hoje trabalha como professora. O fato Ă© que nessas fases de turbilhĂŁo a Carol sumia por muito tempo, tipo quatro anos, e depois reaparecia do nada. Depois, sumia novamente por tempo indeterminado e eu nunca sabia em que momento da vida eu encontraria ela novamente. Nossa amizade sempre teve esses intervalos bruscos, sem data para a prĂłxima vez. HĂĄ dois meses a Carol me chamou para ser padrinho do seu casamento. E eu me dei conta de que essa falta de obrigatoriedade temporal na nossa amizade pouco influĂa na consideração que um tinha pelo outro.
– Tem o exemplo da Divimary. NĂłs temos uma amizade cinĂ©fila. Nossos encontros sĂŁo assĂduos atĂ© hoje. Ao menos uma vez por mĂȘs damos um jeito de marcar nosso cafĂ© com cinema. Desde os tempos de faculdade, nos acostumamos a passar tardes na Rua Augusta, regadas a filmes de todos os tipos e passeios sem destino. Ela Ă© daquele tipo de amiga que para te ajudar, manda o seu currĂculo sem vocĂȘ saber e chega a ir Ă entrevista de emprego junto pra te dar apoio moral. Ă daquelas que te dĂŁo apoio quando vocĂȘ esta começando algo incerto e faz propaganda positiva sobre vocĂȘ para todos os outros amigos dela. Ă engraçado que mesmo nĂŁo fazendo por ela exatamente na mesma medida o que ela faz por mim, tenho a certeza que ela aceita a minha frequĂȘncia afetiva.
A ideia de “frequĂȘncia afetiva” a meu ver envolve muito de aceitar o que o outro tem pra te oferecer, mas principalmente o que ele nĂŁo tem. Nos Ășltimos meses passei por diversas situaçÔes em que eu tive que dizer nĂŁo para alguns amigos e pessoas queridas. A verdade Ă© que quanto mais relaçÔes afetivas vocĂȘ tenta manter, mais vocĂȘ tem que disponibilizar o seu tempo e fazer escolhas em prol delas. Muitas vezes, essas escolhas nĂŁo vĂŁo favorecer um amigo seu e a maneira como ele reage a isso Ă© um momento importante para que vocĂȘ se descubra seletivo em suas relaçÔes. Ăs vezes vocĂȘ nĂŁo diz nĂŁo por egoĂsmo, Ă s vezes vocĂȘ diz nĂŁo porque tinha outra prioridade. VocĂȘ conhece verdadeiramente as pessoas – que supostamente gostam de vocĂȘ – quando observa como elas se comportam diante desse nĂŁo. Existe a situação oposta: aquelas amigos que nunca podem fazer nada, que de 100 convites, topam apenas um. Eu nĂŁo deixo de ser amigo dessas pessoas por isso, mas elas deixam de ser prioridade na hora de pensar em quem vou chamar pra ir pra balada ou pro teatro. Na minha escala de amizades assĂduas, os amigos que costumam topar coisas em cima da hora costumam naturalmente estar no topo das minhas prioridades.
Essa aceitação vale para todo tipo de relação, inclusive para as familiares ou para os namoros. Existem relaçÔes familiares que se estabelecem apenas pela convenção das datas comemorativas. Primos que vocĂȘ vĂȘ somente no Natal e que talvez vocĂȘ nĂŁo procure durante o ano exatamente por isso. Porque esse tipo de frequĂȘncia estabeleceu-se na relação com eles e nĂŁo porque no fundo vocĂȘ sĂł os vĂȘ pela obrigação da data. A frequĂȘncia tambĂ©m envolve o jeito de demonstrar afeto. No mundo tambĂ©m existe gente que “nĂŁo gosta” de receber ou demonstrar afeto ou que nĂŁo Ă© de abraço, pior ainda se for demorado. Tem atĂ© gente que nĂŁo lida bem com elogios. E essa negociação de espaços Ă© muito importante. Saber colocar em prĂĄtica a arte da empatia tentando entender e tolerar o outro da maneira como ele Ă©, caso vocĂȘ faça questĂŁo da relação.
NĂŁo tem como finalizar esse texto sem tocar em um tipo de frequĂȘncia afetiva extremamente importante na vida virtual. A frequĂȘncia de likes. Existem aqueles amigos que nĂŁo sĂŁo de entrar na internet ou de interagirem em redes sociais. Tem os que leem vocĂȘ em silĂȘncio ou aqueles que simplesmente tĂȘm preguiça do que vocĂȘ escreve – nĂŁo necessariamente preguiça de vocĂȘ. Existem os que usam o like como uma forma de vĂnculo/interação/ manutenção de relação. Existe atĂ© aquela pessoa que estranhamente sĂł da like quando vocĂȘ conta alguma zica que te aconteceu. Existe tambĂ©m o ciĂșme. – Por que ela vive dando like no amiguinho e nĂŁo em mim?
Na vida conjugal as coisas ficam um pouco mais delicadas. Quanto menos expectativas sobre o seu par melhor. Mas e pra baixĂĄ-las? Ă difĂcil entender que existem parceiros que se esquecem de datas importantes ou namoradas que nĂŁo sentem ciĂșme de vocĂȘ e pronto. Aceitar uma vida a dois tem muito de estarmos preparados para tudo o que nĂŁo iremos receber.
VocĂȘ estĂĄ preparado para nĂŁo receber?
VocĂȘ estĂĄ preparado para receber, sĂł que nĂŁo exatamente da forma que esperava?
VocĂȘ respeita a frequĂȘncia afetiva dos outros?"